Provavelmente você já ouviu falar que os microplásticos ameaçam a vida marinha, as aves e até a saúde humana. Mas, seria capaz de afirmar qual é a fonte predominante que despeja este poluente nos nossos recursos hídricos?
Graças à química e pesquisadora da ONG Route Brasil, Glaucia Olivatto, será possível responder esta questão. Após seis meses de trabalho na USP, a cientista desenvolveu um cálculo capaz de revelar se o contribuinte mais representativo é o plástico já produzido em escala micro inferior a 5mm ou o descarte inadequado de resíduos que são fragmentados até ficarem invisíveis aos nossos olhos.
O estudo contou, ainda, com o apoio de uma equipe multidisciplinar e a parceria com o laboratório de polímeros da Unicamp. Seu resultado é tão relevante que a cientista foi convidada para apresentá-lo hoje no congresso da Society of Environmental Toxicology and Chemistry (Setac), na Bélgica. O evento está acontecendo na cidade de Ghent e vai até 10 de fevereiro. Durante seis dias, profissionais da comunidade científica dedicados à questões ambientais irão debater e trocar informações especificamente sobre os microplásticos.
“Vou apresentar uma ferramenta de análise química que desenvolvemos para ser aplicada na compreensão do tempo de residência do plástico no meio ambiente, o que permite elucidar a sua origem e não apenas a identidade do polímero”, explica Glaucia que estudou o polietileno e o polipropileno por serem os preferidos da indústria na fabricação de produtos.
Mas, por que a pesquisa da Gláucia é tão importante? Para sabermos onde é preciso atuar, de quem cobrar, criar leis, adaptar as redes de tratamento de esgoto, determinar controles específicos para a zona costeira ou até proibir o uso de microplásticos em cosméticos, o que já foi feito em vários países.
O assunto é tão preocupante que foi incluído na lista de poluentes emergentes na pauta do último workshop da Unesco, em dezembro do ano passado. De acordo com a pesquisadora, o termo é empregado para indicar que uma classe de contaminante ainda não legislada deve ser estudada com prioridade para levantamento do máximo de informações científicas. O resultado será a criação de leis específicas e a preservação da natureza já tão negligenciada pelos nossos hábitos de consumo. Outros exemplos são: pesticidas, fármacos, hormônios, cafeína e muitos outros para os quais não há tecnologia capaz de degradá-los.
Consciente da urgência do problema, Gláucia continua trabalhando no laboratório porque este é apenas um dos tópicos de um projeto ainda maior sobre um tema com muitas lacunas para preencher: “Pouco sabemos ainda sobre os efeitos dos microplásticos despejados nos nossos recursos hídricos para a ecologia e saúde humana também, já que consumimos carne, frutos do mar, sal…”, alerta.
A expectativa é que a participação em um evento internacional tão importante como este da Setac, possa contribuir para avanços significativos: “Grandes parcerias internacionais com pesquisadores renomados podem deixar a pesquisa ainda mais grandiosa”, comemora a pesquisadora por entender que o convite vai além do reconhecimento de um excelente trabalho.
É do Brasil! É Route!
Texto: Monique Mendes