Por Tiago Bonatelli e Vitor Frias
Restinga, do Tupi jun’du
Vegetação rasteira de terreno adjacente à praia ou de terreno de transição entre a praia e o mar – nhun’du
RESTINGA (para a Geografia) é um espaço geográfico formado sempre por depósitos arenosos paralelos à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, podendo ter cobertura vegetal em mosaico.
RESTINGA (para a Biologia) vegetação presente no litoral brasileiro, sendo uma faixa de vegetação situada na transição entre a faixa de praia e a mata atlântica, sendo esta última considerada como vegetação de porte maior, que se situa mais para o interior do continente.
No entanto, este ambiente constitui uma importância que vai muito além dos conceitos descritos pelas áreas que o estuda. Trata-se de um ambiente com características únicas, que abriga uma imensa gama de espécies singulares, adaptadas para sobreviver a condições muitas vezes extremas de salinidade, temperaturas, umidade e fortes ventos.
Nossos antepassados indígenas chamam a restinga de jun’du ou nhun’du, nomes que foram apropriados para classificar a vegetação existente neste ecossistema tão complexo, que significa “vegetação rasteira próxima à praia”.
A restinga ou jun’du é a interface entre o mar, a praia e a vegetação continental, em grande parte do Brasil, denominada Mata Atlântica. Podemos dizer que é a barreira que protege nossos solos e vegetação das furiosas “ressacas” marítimas. É a restinga que detém a expansão das dunas. É ela que cuida da manutenção dos bancos de areia das costas brasileiras, o que proporciona as lindas ondas de Saquarema e Joaquina.
Nossas nhun’du cuidam de diversas espécies de aves, mamíferos e répteis, que se aproveitam da proteção adaptada desse ambiente para usufruir de alimentação, procriação e abrigo.
A magia deste ambiente tão delicado, intrigante e complexo está em constante luta contra os interesses especulativos e sofrendo com ações impensadas de uma certa espécie animal, denominado pela ciência como Homo sapiens.
Nós, os H. sapiens, estamos criando maneiras cada vez mais agressivas e irracionais de utilização destas áreas. Cada vez mais há destruição destes ambientes para uso inapropriado, cada vez mais, são encontrados resíduos sólidos descartados inadequadamente nas restingas, cada vez mais as “ressacas” marítimas causam mais danos a nós, por estarmos no lugar errado.
As Restingas estão enquadradas, no Novo Código Florestal, como Área de Preservação Permanente – APP, porém nesta segunda-feira (28), o governo federal revogou resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que garantiam além da preservação de áreas de restinga e também manguezais, de entornos de reservatórios d’água e que disciplinavam o licenciamento ambiental para projetos de irrigação. Revogação que foi suspensa pela Justiça do RJ já no último dia 29. Essas recentes alterações mostram o quanto é latente a necessidade de ampliarmos nossas mobilizações em prol da defesa desse e de todos os ambientes!
As restingas exercem uma série de bens e serviços socioambientais, dentre eles a fixação de dunas litorâneas. As dunas e restingas, formam não só um ecossistema rico em espécies de fauna e flora endêmicas, mas também protegem o litoral de eventos erosivos das ondas e marés. Não só atuando como uma barreira física, mas também fornecendo e fixando sedimentos que auxiliam na recuperação das praias e na formação das ondas e dos bancos de areia.
Ao longo de mais de 5000 km do litoral brasileiro, esse ecossistema que sobrevive há mais de 520 anos de exploração e degradação, viveu nesses dias que se passaram um dos seus capítulos mais tristes.
Nós AMANTES do litoral, do mar e dos seus seres, temos uma missão de buscar soluções para reverter esse quadro e JUNTOS buscarmos soluções para recuperá-lo, protegê-lo e vê-lo florir!
* Esse artigo foi escrito em colaboração com à EXPD