Vivenciar a natureza nos leva ao encantamento, o que gera curiosidade e, por conseqüência, torna-se um canal para o conhecimento. Acima de tudo, contribui para a nossa construção emocional e intelectual e nos inspira a participar de processos de transformação.
A iniciativa do Monitoramento Mirim Costeiro – IMMC desenvolve desde 2012 no município de Garopaba-SC um projeto pioneiro de Educação Socioambiental que propõe transformar crianças em “Guardiãs dos Oceanos”. O projeto foi reconhecido como Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil em 2017.
De fato, ter o ambiente natural como espaço educador transforma a forma das crianças de viver, sentir, pensar e agir. Criar cada vez mais consciência, trazendo o despertar nas crianças, através da união de pesquisa, diversão e conhecimento, fazem da educação socioambiental um alicerce.
Fruto da realização de um sonho
O sonho de Caroline Schio – oceanógrafa e presidente do IMMC – desde a faculdade foi idealizado durante o seu curso de graduação. A sua paixão pelo mar somada com o seu ascendente em peixes foi a inspiração para transformar crianças em ‘Guardiãs dos Oceanos’.
O projeto – que testa uma metodologia pioneira, com o propósito de monitorar as praias com os pequenos – já é replicado em diversos locais da costa brasileira. O intuito é expandir não apenas para território nacional, mas também para outros países.
“É a realização de um sonho envolver as crianças no ambiente em que elas moram, com a comunidade, o ecossistema e com a cultura local. É incrível engajar as crianças na realidade onde elas vivem.”
Do Brasil a Portugal
Com pós-graduação em Economia e Gestão Pesqueira e mestrado em Agroecossistemas, Caroline atualmente está iniciando um doutorado em Educação em Portugal. O objetivo é desenvolver uma formação em Alfabetização Oceânica (Ocean Literacy) para crianças do Ensino Fundamental. Inclusive as atividades já acontecem com os alunos do ensino fundamental do Centro Escolar Nazaré.
Missão, visão e valores
A missão do projeto é primeiramente formar uma Rede de Guardiões Mirins dos Oceanos, visando replicar a tecnologia social no maior número de cidades litorâneas. Fornecendo às crianças a experiência prática de aprender sobre os oceanos por meio de pesquisa e monitoramento de suas praias, estimulando assim a tornarem-se ‘Guardiãs Mirins dos Oceanos’.
Os valores de respeito, empatia, cooperação, integridade, comprometimento e paixão são transparecidos no olhar de cada criança e educador envolvidos.
Experiências transformadoras
“As crianças tornam-se pesquisadoras e monitoras mirins do litoral onde vivem, conhecendo sobre as características desse ecossistema, sobre a cultura local e as atividades socioeconômicas exercidas em sua comunidade.
Proporcionar às crianças experiências significativas de aprendizagem que as conectem com o ambiente marinho-costeiro onde vivem, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes, responsáveis, críticos e proativos.
Através de nossas ações, buscamos resgatar o sentido, o prazer, a motivação e a reflexão no processo de aprendizagem. Acreditamos que o conhecimento pelo “conhecimento”, ao ser substituído pelo conhecimento pelo “propósito”, passa a adquirir SIGNIFICADO e POTENCIALIDADE para formar AGENTES TRANSFORMADORES de suas realidades.”
Aprendizagem no mar
Envolver as crianças com os atuais problemas socioambientais relacionados aos oceanos, para criar experiências de aprendizagem com práticas no ambiente costeiro trazem um impacto visível na evolução delas.
Em nossa visita ao Mini Museu do Mar, sede do projeto onde são realizadas diversas atividades, foi surpreendentemente visível o quanto as crianças absorvem o sentimento de serem guardiãs e cientistas, de forma lúdica, fazendo pesquisas e aprendendo com as vivências dentro e fora da sala de aula.
Expedições científicas são realizadas nas praias, muitas vezes com o acompanhamento dos pais, que em diversos momentos são mais curiosos do que as crianças. Isso mostra a “falha” da educação socioambiental nas comunidades, impactando gerações.
A sede
Hoje, a sede é usada como um ambiente de convivência entre as crianças da comunidade de Garopaba. Produtos com a identidade da marca foram criados como forma de arrecadação para manter a iniciativa.
Além disso, atividades como yoga, costura, recorte, pintura, música, palestras e oficina de contação de histórias com anciãos do município, são realizadas no Mini Museu do Mar.
Todas as crianças nos ensinaram muito sobre os animais, pedras, conchas, entre outras coisas que compõe o Mini Museu. Foi como uma aula! É nítido o amor das crianças pelos monitores e os oceanos, além do conhecimento avançado em relação às suas idades sobre o tema.
O impacto da experiência do pesquisador
Primordialmente, aumentar o senso de pertencimento a partir da metodologia aplicada com experimentos e pesquisas faz com que as crianças e suas famílias sintam-se protagonistas das suas ações através da experiência do pesquisador.
Kico Riggo, geólogo, Especialista em Gestão em Poluição Ambiental e Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração, atua há oito anos no IMMC como educador ambiental e na capacitação de multiplicadores e pedagogos.
Ele trouxe a visão de que as crianças devem reaver desde pequenas os hábitos de consumo e que a solução não está somente em recolher os lixos nas praias.
O objetivo portanto é criar pensadores para tornarem-se questionadores e saberem porque o lixo está ali. Ao mesmo tempo, trazer quais soluções plausíveis podem ser aplicadas, do micro ao macro, para amenizar a problemática. “Queremos criar pensadores, para então como resultado, criarmos questionadores.”
A partir do que é encontrado durante as expedições, logo depois é estruturado o conhecimento sobretudo nas áreas de biologia, geologia e oceanografia.
Enquanto faziam uma das experiências com as crianças na praia, foi encontrado um osso de baleia, o qual as crianças desenterraram com o intuito de estudar a caça desses animais, além de saber mais sobre eles.
A educação ambiental é um elo
A fala de Caroline Schio é repleta de brilho nos olhos e definem a visão sobre a sua missão: “A educação ambiental tem que ser o elo que conecta o indivíduo, o ser, com o ambiente onde ele convive. Nós somos natureza, parte do todo. Infelizmente não somos educados para nos sentirmos parte.
É uma forma de resgatarmos a essência de sermos natureza e estarmos integrados de forma consciente, agindo de forma responsável.
Com toda a certeza, somos uma peça muito importante no manejo desse espaço. O papel da educação é tocar o coração das crianças, trazendo uma sementinha de forma mais experimental e vivencial possível.
É através da corporalidade do sentir, viver e fazer que a gente incorpora o conhecimento. Quanto mais prática, mais provocativa e estimulante torna-se a experiência e mais impacto ela vai ter.”
Allan Hoffmann, oceanógrafo e educador no IMMC, relata que é muito recorrente o deparo com lixo nas praias e as crianças saem recolhendo, por mais que essa não seja a atividade proposta. Encantado pelas crianças e suas formas de descobrirem a vida de forma leve e divertida, procura sempre estar perto para aprender mais.
Impacto positivo
Desde 2012, conforme dados registrados, foram mais de de 30.000 pessoas impactadas e 2.240 alunos beneficiados distribuídos em 12 escolas Municipais de Garopaba.
Por fim, no período de existência, já foram 192 saídas a campo. Além disso, foram 277 aulas teórico-participativas, 22 placas instaladas e 7 praias monitoradas pelo projeto.
O time do IMMC também conta com a Amanda Suita, bióloga e ecosurfista. Há 13 anos, ela começou voluntariamente a participar e desenvolver campanhas e ações de educação ambiental, despoluição e monitoramento de resíduos em ambientes costeiros.
No trabalho como Educadora Ambiental do IMMC aborda temas como o estudo da vida, biodiversidade de espécies e os impactos da poluição e dos resíduos sólidos no meio ambiente e na vida humana.
Já a área de Comunicação e Marketing conta com o apoio da produtora cultural, radialista, jornalista e pós-graduada em Gestão Social, Cris Guimarães. Além da Rudáia Correia, à frente do time de expansão e projetos.
Sem dúvidas, esse é um dos projetos mais incríveis já visitados pela equipe ROUTE Brasil. Ficou curioso (a) em como colaborar ou saber mais sobre o IMMC? Acompanhe o perfil no Instagram @monitoramento_mirim_costeiro e obtenha mais informações atraves do site do projeto.
É ROUTE!