Por MarSemFim
Estava demorando para acontecer. Mas era questão de tempo para a ‘ressaca’ da pandemia atingir o litoral brasileiro. Desde o dia 20 de abril algumas praias do Nordeste, especialmente no Rio Grande do Norte e Paraíba, foram atingidas por grande quantidade de lixo hospitalar e urbano. Em meio a muito material plástico como chinelos, pedaços de eletrodomésticos, e garrafas, foram encontradas seringas e outros materiais usados em hospitais. Ninguém sabe de onde veio o lixo.
Imagem: G1
Praias do Nordeste poluídas por lixo hospitalar
No Rio Grande do Norte algumas das praias mais famosas como a descaracterizada pelo turismo desordenado, a Pipa, e Barra do Cunhaú, desfigurada pela carcinicultura, receberam toneladas de lixo, diz o jornal O Estado de S. Paulo.
Já na Paraíba, diz o jornal, as mais atingidas foram as praias da capital João Pessoa, além das que ficam nos municípios de Conde e Cabedelo. Só nas praias do Bessa e Manaíra foram coletadas 12 toneladas de lixo, inclusive material de campanha eleitoral, nos informa José Maria Tomazela, autor da matéria.
É lamentável acontecer também na Paraíba, único dos 17 Estados costeiros capaz de manter a integridade de seu litoral.
E esta não foi a única ‘contribuição’ da pandemia para a poluição mundial dos oceanos. Em 2020 estima-se em 1,56 bilhão o número de máscaras faciais que acabaram nos oceanos.
Praias do Nordeste: dúvidas sobre a origem do lixo persistem
Segundo o G1 ao menos 13,5 toneladas de lixo foram retiradas das praias da Paraíba e Rio Grande do Norte nesta semana.
O lixo começou a chegar às praias na terça-feira, 20 de abril. A primeira a ser atingida teria sido a praia do Bessa, em João Pessoa. No dia seguinte mais dois municípios foram atingidos, Conde e Cabedelo. Já na quarta começaram as reclamações dos moradores do litoral sul do Rio Grande do Norte.
Imagem: Prefeitura de João Pessoa
Mas, segundo O Estado, até a tarde desta sexta-feira, 23, não havia confirmação sobre a origem do lixo. O jornal ouviu o secretário de Meio Ambiente de João Pessoa, Welison de Araújo, que disse não haver indicação que o lixo tenha vindo de rios e galerias pluviais da capital. O secretário declarou:
“De acordo com as vistorias, os resíduos podem ter sido trazidos de outros estados por uma corrente de vento sazonal. Mas uma coisa é certa: é lixo que alguém jogou e poluiu o meio ambiente e acabou voltando.”
Ponto de desova de tartarugas é atingido no Rio Grande do Norte
Segundo a Folha de S. Paulo, voluntários e servidores da prefeitura de Tibau do Sul recolheram meia tonelada de resíduos do local. Um dos pontos atingidos é uma importante região de desova de tartarugas.
Este ponto de desova não identificado pela Folha é a praia das Minas, em Tibau do Sul. O lixo plástico é confundido como alimento por tartarugas-marinhas, e também é absorvido por organismos filtrantes como ostras, e outros.
A Folha diz que o órgão ambiental do Estado, o Idema, Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, confirmou que não há informações sobre a origem do material.
A Folha acrescentou que o órgão entrou em contato com os Estados de Pernambuco e Paraíba para saber sobre um possível incidente ambiental.
O lixo acumulado em Barra do Cunhaú. Imagem,Divulgação
As cidades mais atingidas foram Baía Formosa, Canguaretama, Tibau do Sul e Nísia Floresta. Mas, segundo o diretor-geral do Idema, Leon Aguar, foi possível identificar no material recolhido nomes de municípios de Pernambuco e também Alagoas.
Prefeitura de Tibau do Sul conclui estudo sobre o lixo
Na segunda-feira, 26 de abril, o jornal Tribuna do Norte informou que ‘a Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Mobilidade Urbana conclui um relatório técnico, que evidencia prejuízos para o bioma local. Além disso, o relatório da equipe de biologia da secretaria categoriza o lixo achado nas orlas a fim de auxiliar na descoberta origem deste crime ambiental’.
O relatório será encaminha para o Ibama, Ministério Público Federal e para a Capitania dos Portos, para a investigação.
Isso parece o início do fenômeno do derramamento de óleo no Nordeste em 2019, até hoje sem resposta por parte do poder público. Ninguém sabe dizer de onde veio o óleo que atingiu em cheio o litoral do Nordeste.
O Ibama abriu uma investigação na sexta-feira, 23 de abril. A ver se será tão eficiente como a do vazamento de óleo de 2019.