MATANÇA DE JUMENTOS
Fala-se em abate de jumentos, mas esta não parece ser a expressão mais
adequada. A forma como é realizada e os motivos alegados para fazê-lo
indicam um extermínio irracional e sem qualquer fundamento plausível, que
não seja a ganância e irresponsabilidade dos praticantes. Então, vamos dar
nome aos bois, esses sim abatidos em matadouros regularizados e com
finalidades alimentícias, econômicas e que tais. Não é o caso dos pobres e
sofridos jumentos. O caso aqui é de MATANÇA.
OS FATOS
Em nome da fabricação de uma substância chamada EJIAO, que pretensamente
seria um produto farmacêutico com mirabolantes efeitos para a saúde de seres
humanos – FATO CONTESTADO CIENTIFICAMENTE E NUNCA
SUFICIENTEMENTE COMPROVADO – a partir do colágeno obtido através da
manipulação da pele do jumento, começou a procura desses animais em alguns
países, para serem abatidos, sendo um dos principais o Brasil, através de
iniciativa de empresários chineses, que buscaram e obtiveram licença para
operar com empresas brasileiras que se dedicam a essa prática.
Na Bahia, os abatedouros Frinordeste, situado em Amargosa, o Frigorífico
Cabra Forte, de Simões Filho, e o Sudoeste, de Itapetinga são os principais
atuantes nesse setor.
Razões de ordem econômica, como desenvolvimento da região pelos negócios
realizados, emprego de brasileiros e também de utilidade medicinal, pelos
benefícios para a saúde dos usuários, são alegações para justificar o abate.
Mas não é bem assim. Investigações e acompanhamento das atividades desses
sanguinários matadores revela o absurdo de seu procedimento. Jumentos são
vendidos no Nordeste por meros R$ 20,00 (vinte reais), segundo levantamento
de diversas entidades, o que a imprensa também tem investigado, e uma pele
desse mesmo jumento vale na china a bagatela de US$ 2.000,00 a US$
4.000,00 (dois a quatro mil dólares), o que dá uma ideia do lucro fabuloso que
gera para os patrocinadores da chacina.
O quadro se agrava ainda mais devido à forma como esses jumentos são
obtidos, coletados, transportados, mantidos até o abate. Não há qualquer
cuidado com eles, lembra muito o transporte de escravos por navios negreiros,
onde seres humanos ficavam alojados nas piores condições, morrendo às
centenas no transporte. Só interessava o lucro. É o que acontece com os
jumentos: animais sem alimentação, sem água, morrendo aos magotes (seu
baixo custo justifica não gastarem com maiores cuidados, como alimentação,
água, locais de armazenamento decentes, para os desalmados matadores),
muitas vezes jumentas prenhes, filhotes, enfim, um quadro trágico e tenebroso,
imoral e ilegal, certamente.
Pior: essa matança indiscriminada, sem qualquer preocupação até com a
reposição de animais para uma eventual produção futura, já que é puramente
extrativista, provocou uma baixa imensa no número de jumentos na área onde
vem sendo praticada. Dados do IBGE evidenciaram a presença de jumentos no
Brasil – a maior parte no Nordeste – no ano de 2013, em número de cerca de
900 mil. Atualmente, segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, há cerca de 400 mil jumentos no Brasil. Veja-se o crescimento
da matança: entre 2010 e 2014, mil jumentos foram abatidos. Com a prática
atual, entre 2015 e 2019, 91,6 (noventa e um mil e seiscentos) animais foram
eliminados.
A REAÇÃO
A Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, composta por instituições como
Forum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Princípio Animal, União Defensora
dos Animais (Bicho Feliz), Rede de Mobilização Pela Causa Animal – REMCA, e
outras mais, não se quedaram inertes. Ações judiciais foram intentadas e
Audiências Públicas foram realizadas no Congresso Nacional em 2019 e na
Assembleia Legislativa da Bahia em 2021.
Os passos iniciais para toldar a iniciativa criminosa foram tomados na Justiça Federal,
perante Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. O imbróglio
jurídico teve sequência em 2019 com a derrubada da liminar proibindo o abate,
através de iniciativa do Governo Federal e do Município de Amargosa. Até
mesmo o Governo da Bahia, também réu na ação, interpôs recurso, alegando
motivos econômicos e sociais para manter a prática. Decisão revertida em
em Fevereiro de 2022, felizmente, com a manutenção da proibição do abate.
Infelizmente, órgãos governamentais, alegando falta de cumprimento de etapas
judiciais de notificação, não coibiram a ação das empresas de abate, formando-
se um impasse jurídico. Mas a luta continua e o coordenador jurídico da Frente
Nacional de Defesa dos Jumentos, o advogado Yuri Fernandes Lima, através de
petições em primeira e segunda instância judiciais, busca o cumprimento da
decisão proferida em abril pela Juíza Arali Maciel Duarte, da 1ª Vara Federal da
Bahia, que intimou a União, o governo da Bahia e a Adab (Agência de Defesa
Agropecuária da Bahia), que fiscaliza o transporte e manutenção dos animais
em fazendas do Estado da Bahia, para que cumpram a determinação de parar o
abate.
E vai-se nessa toada, que inclui, além da ação devastadora dos abatedouros, a
busca por entidades governamentais, inexplicável e injustificavelmente, do
status quo ante, permitindo-se a hedionda prática.
QUESTÕES SANITÁRIAS DECORRENTES
Tem-se a ganância desenfreada dos negociadores/matadores de jumentos;
tem-se a falta de visão ética das autoridades públicas evidenciada pelo
abandono da proteção dos animais; tem-se a ilegalidade dos maus tratos
infligidos aos animais; mas tem-se, também, um efeito colateral da maior
gravidade: toda essa maquinação de transporte e manutenção de animais
confinados, sem alimentação, sem água, nas piores condições de higiene, se
traduz num risco imenso de zoonoses espalhadas por onde se localizam e
alhures, sobretudo uma doença mortal chamada MORMO, também conhecida
como LAMPARÃO, que impõe a inevitabilidade de sacrifício do animal infectado
e, tragicamente, na sua forma septicêmica, resulta na morte de seres humanos
na proporção altíssima de até 95% em 24 ou 48 horas após o contágio.
A conclusão que se impõe, sem sombra de dúvida, é que esse extermínio não
tem pontos positivos de espécie alguma. A crueldade é imensa, o futuro da
existência desses animais está seriamente ameaçado, os lucros dos matadores
são escorchantes, desmedidos e injustificados, e a eventual contaminação de
animais e mesmo de humanos é um imenso risco. Há que se por contra
imediatamente à prática, à carnificina, por todos os aspectos acima relatados e
certamente ainda mais outros que são ou serão decorrentes da matança. Chega
de matança, chega de maus tratos, chega de exploração extrativista, que a lei
seja cumprida e se ponha termo imediatamente ao absurdo. A sociedade não
admite esse tipo de procedimento, e a luta é pela preservação dos sacrificados
e mortificados jumentos. Chega!!!
Agradecemos a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos por nos ceder informações e imagens.
Fonte consultada: Abates e exportação de jumentos para China continuam na Bahia mesmo com proibição da Justiça