Agentes de Mudança
Da comida que comemos à água que bebemos e à energia que consumimos, a biodiversidade e a natureza sustentam a vida na Terra. Mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) global depende da natureza e 70% das pessoas mais pobres do mundo dependem diretamente de serviços da natureza para sobreviver. Mas a biodiversidade – que significa ‘a variedade de vida na Terra em todos os níveis’ – também é essencial para limitar os profundos efeitos da mudanças climática e absorver mais da metade de todas as emissões de carbono na Terra.
No entanto, este complexo motor da vida está em crise, e a atividade humana está impulsionando o seu declínio. A superexploração dos recursos está ameaçando cerca de 1 milhão de espécies de animais e plantas. Para reverter essas tendências, precisamos mudar para padrões de consumo e produção sustentáveis.
Com apenas sete anos para alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, investir em áreas-chave de transição, como biodiversidade e adaptação e mitigação das mudanças climáticas, pode ser um fator decisivo para avançar nos ODS e proteger nosso único planeta.
Agentes de Mudança é uma nova série editorial do Escritório de Coordenação de Desenvolvimento das Nações Unidas sobre as principais transições que o secretário-geral da ONU tem convocado para avançar em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), catalisando um futuro mais sustentável e equitativo. Esta série explora o progresso alcançado desde a adoção dos ODS em 2015 em áreas-chave e como a ONU está apoiando esse progresso.
Onde estava o mundo em 2015?
Em 2015, quando a Agenda 2030 foi adotada, o consumo e a produção insustentáveis estavam impulsionando o declínio da biodiversidade e alterando a saúde dos ecossistemas marinhos, terrestres e de água doce do mundo. Naquela época:
- Apenas 14% das terras em todo o mundo estavam oficialmente protegidas.
- Globalmente, menos de 9% dos ecossistemas marinhos estavam protegidos. Um terço das populações globais de peixes marinhos estava sendo explorado em níveis insustentáveis.
- Ao mesmo tempo, cada vez mais plásticos poluíam os oceanos, rios e lagos do mundo. Até 2015, 60% de todo o plástico já produzido havia sido descartado como resíduo.
- Todas os compromissos dos países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa combinadas estavam colocando o mundo em uma trajetória de aumento de temperatura de 3°C até 2100, em relação aos níveis pré-industriais.
Onde estamos em 2023, na metade do caminho para os ODS?
Na marca de meio caminho em direção ao prazo de 2030, embora a conscientização global sobre a proteção da biodiversidade tenha aumentado, os esforços para transformar nossa interação com a natureza e o consumo de recursos ainda estão atrasados em termos de velocidade e escala.
- Hoje, três quartos das terras do planeta e cerca de 66% do ambiente marinho foram significativamente alterados pelas ações humanas.
- Mais de um terço da superfície terrestre do mundo e quase 75% dos recursos de água doce agora são dedicados ao cultivo ou à criação de gado.
- Junto com os níveis crescentes de poluição, a degradação do habitat natural e a perda de biodiversidade estão tendo impactos sérios nas comunidades ao redor do mundo. Em 2023, estima-se que de 100 milhões a 300 milhões de pessoas estejam em maior risco de enchentes e furacões devido à perda de habitats costeiros.
A guerra contra a natureza deve parar
O mundo precisa de uma transformação econômica, respaldada por políticas e investimentos baseados em evidências, que reconheça nossa dependência da natureza em nossas vidas e meios de subsistência. Acima de tudo, essa mudança deve ser mensurável, capturando a contribuição da natureza para nossas economias como parte dos planos nacionais de desenvolvimento sustentável.
O que a ONU está fazendo?
Em nível global, a ONU convocou e apoiou a adoção pelos Estados-Membros de um acordo crucial sobre biodiversidade conhecido como Estrutura Global de Biodiversidade Kunming-Montreal. Em campo, equipes da ONU, sob a liderança de coordenadores residentes, estão apoiando os países a cumprir seus compromissos internacionais de proteção da biodiversidade, promovendo quadros políticos e regulatórios mais robustos.
Nossas equipes também estão trazendo oportunidades de investimento de parcerias nacionais e internacionais para tornar essa transformação econômica possível – e sustentável. Ao impulsionar a adoção de soluções baseadas na natureza, as equipes da ONU estão promovendo a gestão sustentável dos recursos naturais. Isso é fundamental para ajudar a natureza a ‘se curar’, adaptar-se e trazer benefícios para toda a sociedade.
Destaque: Integrando a natureza no planejamento econômico de longo prazo do Paquistão
No Paquistão, o coordenador residente e a equipe das Nações Unidas trabalharam com o governo para lançar a maior iniciativa climática da história do país, chamada Living Indus.
A iniciativa de US$ 17 bilhões se concentra na restauração do ambiente da Bacia do Rio Indo, ao mesmo tempo em que investe na resiliência econômica e nos meios de subsistência sustentáveis das comunidades circundantes. A iniciativa compreende 25 intervenções direcionadas, incluindo arborização urbana, redução de resíduos plásticos e melhoria na gestão das águas subterrâneas. Isso é um resultado das consultas lideradas pelo Coordenador Residente, que reuniu governo, líderes provinciais, sociedade civil e setor privado para mobilizar ação coletiva.
Em setembro de 2022, o Paquistão foi atingido por inundações devastadoras que deixaram grandes extensões do país sob água e afetaram mais de 33 milhões de pessoas. O governo usou o programa Living Indus como base para a resposta.
À medida que essa catástrofe climática se desenrolava, a equipe da ONU entrou em ação, recorrendo ao programa Living Indus como a solução principal para planejar e iniciar a recuperação econômica do Paquistão. Com uma visão compartilhada de adaptação às mudanças climáticas antes que a crise ocorresse, o Living Indus proporcionou um caminho para a ONU apoiar a resposta do governo às inundações, ao mesmo tempo em que fortaleceu a resiliência e a sustentabilidade.