POR G1
“O idoso deseja de fato continuar trabalhando ou é a única alternativa para se manter vivo? O trabalho no envelhecimento decorre da necessidade de complementar a parca aposentadoria”, afirmou Tereza Cristina Santos Martins, doutora em serviço social e professora da Universidade Federal de Sergipe, em evento realizado pelo Sesc Pinheiros, em São Paulo, nos dias 22 e 23. O seminário, intitulado “Envelhecimento, tempo e sociedade”, tinha como objetivo comemorar a atuação da entidade com pessoas dessa faixa etária, que está completando 60 anos, e discutir idadismo, diversidade e políticas públicas para os mais velhos. Também marcou o lançamento do livro “Velhices – perspectivas e cenário atual na pesquisa Idosos no Brasil”.
Os 14 ensaios da obra têm, como ponto de partida, a segunda edição da pesquisa “Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade”, uma parceria com a Fundação Perseu Abramo. É de autoria da professora Tereza Cristina o capítulo “Racismo no Brasil: a condição diferenciada de envelhecer dos/as trabalhadores/as negros/as”, que se debruça sobre o alto percentual de idosos – principalmente negros e pardos – que continuam na ativa, na sua maioria na informalidade:
“Depois de quase quatro séculos de escravidão, a mão-de-obra negra foi excluída das relações de trabalho com algum tipo de regulação estatal. A opção pela utilização da força de trabalho dos imigrantes, no século XIX, perpetuou a precarização histórica e a falta de inserção social dos que haviam sido escravizados. Entre os idosos que ainda trabalham, 40% são pretos e 37%, pardos. Por não terem tido acesso ao mercado formal, aos postos com melhores salários, a parcela majoritária da população negra se faz representar nas faixas de remuneração previdenciárias menos elevadas, aspecto relevante para a necessidade de se manterem ou retornarem ao trabalho. Todas as outras dimensões e aspectos da vida são atravessados pelas desigualdades raciais nas relações de trabalho”, detalhou.
Ela instigou a plateia com indagações, inclusive relacionadas ao lazer: “assistir TV, a principal fonte de lazer para 93% dos entrevistados, seria realmente a atividade preferida ou isso apenas decorre do fato de não demandar custos adicionais ou significativos?”. Para Sálvea de Oliveira Campelo e Paiva, também autora de um dos ensaios, doutora em serviço social e coordenadora-geral do Núcleo de Articulação e Atenção Integral à Saúde e Cidadania da Pessoa Idosa da Universidade Federal de Pernambuco, é necessário um outro olhar sobre os indicadores de saúde, uma vez que os atuais levam a uma redução da totalidade social na qual os indivíduos estão inseridos:
“A tendência é normalizar os dados de saúde, mas temos que investigar a história que existe por atrás deles. Não basta constatar o alto número de casos de diabetes entre os mais velhos. E se esse diagnóstico foi feito quando a pessoa tinha menos de 40 anos? E se ela já sofreu, anos atrás, uma amputação por falta de tratamento adequado? Essa dor não aparece nos indicadores”.