POR DIARIO DO MINHO
Desde 2013 que 20 de março está reservado para a comemoração do Dia Internacional da Felicidade. A decisão foi tomada unanimemente, em 2012, pelos 193 estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), por sugestão do Butão, um pequeno país budista localizado nos Himalaias. Curiosamente, este país adota como estatística oficial a Felicidade Nacional Bruta, em vez do Produto Interno Bruto (PIB).
A comemoração em causa é motivo mais que suficiente para uma breve reflexão sobre a felicidade, até porque há estudos que revelam ser Portugal um dos países mais infelizes da Europa1, apesar de, entre nós, como à escala planetária, todos procurarem a felicidade e os psicólogos salientarem a sua importância na vida. Se, noutros tempos, se dizia que “nascemos para sofrer” e há quem, desprovido de fé na vida para além da morte, ouse afirmar que “nascemos para morrer”, prefiro o que se ouve, com frequência: “nascemos para ser felizes”.
Não é fácil, contudo, definir nem alcançar a felicidade, dado que tem muito a ver com a personalidade, a disposição e a forma de estar de cada um. Resulta de um conjunto de fatores que para ela confluem e, por isso, o povo diz que “a felicidade não é uma recompensa, é uma consequência”. Também não é um estado constante, dado que “precisa de ser interrompida, para ser sentida” (ditado popular). Não se confunde com o riso e é um assunto muito sério! Como tudo, requer esforço, dado que “às vezes, é uma bênção, mas geralmente é uma conquista” (Paulo Coelho) e “é proporcional ao grau de esforço” (ditado popular). Impõe-se que seja procurada, pois que “evitar a felicidade com medo de que ela acabe é o melhor meio de se tornar infeliz” (Albert Einstein).
Numa tentativa de definição, Aristóteles disse que “a felicidade é ter algo que fazer, ter algo que amar e algo que esperar” e o povo diz que “a felicidade consiste em trabalho, paz e saúde”. Se “a suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados” (Victor Hugo), compreende-se que William Shakespeare tenha escrito que “é muito melhor viver sem felicidade do que sem amor”. Além disso, a felicidade não é olhada por todos da mesma forma, como se conclui do enunciado das bem-aventuranças (Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23). Tem, por isso, a sua carga de subjetividade (diz o ditado popular que “feliz e infeliz é quem tal se crê e não quem outro diz”) e exige opções: “Feliz é quem só quer o que pode e só faz o que deve” (ditado popular).
Face a tudo isto, tenho algumas reservas quanto a um certo conceito de felicidade que, por aí, circula e que a reduz a um mero sentimento. De facto, alguns pensam que ser feliz significa apenas sentir-se bem, física e emocionalmente. Outros reduzem-na à segurança e à tranquilidade, em virtude dos bens que possuem ou da ausência de contrariedades. Contudo, “a felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças do que nos nossos bolsos” (Arthur Schopenhauer) e “não se resume na ausência de problemas, mas sim na capacidade de lidar com eles” (Steve Maraboli).
Há também quem procure a felicidade apenas dentro de si, a queira só para si e pense que ela só de si depende. Contudo, é a relação com os outros e a prática do bem que dão fundamento à felicidade autêntica e duradoura: “A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira” (Leon Tolstói); “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros é o segredo da felicidade” (George Bernanos). Nesse sentido vão também os ditados populares: “A felicidade é algo que se multiplica quando se divide” e “a felicidade troca-se; a nossa vem-nos sempre de outrem”.
De tudo quanto, até ao momento, se disse, conclui-se que não é fácil definir a felicidade e menos fácil ainda é alcançá-la. Participa do caráter paradoxal de tudo o que é humano: diz um ditado popular, talvez com algum exagero, que “a felicidade está onde nós a pomos, mas nunca a pomos onde nós estamos”. E um outro refere que “a felicidade que falta torna insuportável mesmo a felicidade que se tem”. Contudo, é muito proveitoso apostar nela, visto que “as pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo” (Epicuro). Não duvido de que a felicidade faz a diferença!
Assunto complexo, a felicidade requer a verdade e a fidelidade, exige esforço e partilha, tem limites e, por isso, nunca é completa. Procura-se de muitos modos e por muitos caminhos, mas nem sempre se encontra. Talvez porque, como diz o escritor vietnamita e monge budista Tich Nhat Hanh, “não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”. Termino com algo que me faz feliz: desejar a todos um feliz dia da felicidade!
Na escala de 0 a 10, Portugal apresenta uma avaliação média de felicidade de 5,1. Além disso, é o terceiro país europeu com maior consumo de antidepressivos.