Vivemos tempos peculiares e desafiantes, onde a maioria de nós sente que o mundo parou de girar. Ainda assim, mesmo fechados entre quatro paredes e a zelar pelo bem-estar de todos, a natureza continua lá fora a ser quem só ela sabe ser. E embora o mundo esteja focado no vírus que veio abalar a nossa sociedade, existem outras coisas que merecem a nossa atenção. Uma delas é o plástico que veio de mão dada com a pandemia.
O grave problema que temos com o plástico deixou de ser novidade. Na ponta da língua estão todos os números, estatísticas e histórias que acompanham este material versátil e viciante. Desde os mil milhões de plástico que foram produzidos nas últimas décadas, aos microplásticos que podem ser encontrados em todos os cantos do mundo, à baleia que foi encontrada morta na Indonésia com 6 quilos de plástico no estômago. Uma lista que não tem fim.
O que a pandemia tem a ver com o plástico?
Quando a primeira onda de COVID chegou à pátria, as incertezas eram muitas e o conhecimento ainda pouco. Não sabíamos como o vírus se propagava ou o que poderia ser feito para reduzir o seu desenvolvimento, além do óbvio: lavar bem as mãos. Pouco depois começou a corrida às máscaras, luvas e desinfetantes.
Não foi preciso muito para começarem a aparecer máscaras espalhadas pelo chão: nos estacionamentos, nas praias e parques, perto de supermercados, hospitais e centros de saúde, perto de escolas.
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A nível mundial, as estimativas apontam para o uso de 120 mil milhões de máscaras descartáveis por mês. Sendo que cada máscara pesa aproximadamente quatro gramas, é fácil entender que cerca de 40 mil quilos (só em máscaras) são deixados à sua mercê nos nossos mares, rios, riachos, ribeiras e solos. Todos os meses.
6 toneladas de plásticos a invadir o nosso ambiente
Em Portugal – usando a mesma linha de pensamento acima – estaremos a falar de algo como cerca de 150 milhões de máscaras usadas todos os meses. E se apenas 1% for dada como depositada incorretamente, são 6 toneladas de plástico a invadir o nosso ambiente.
“Sabemos que 80% de todo o plástico que está no oceano tem origem em terra, e é garantido que as máscaras e luvas que vemos nas nossas ruas vão acabar aí. Proteger a nossa saúde não pode implicar colocar em risco a do planeta, até porque inevitavelmente isso irá virar-se contra nós. É crucial que usemos máscaras reutilizáveis, sempre que for seguro fazê-lo. O risco dos descartáveis que, depois de usados, são deitados na natureza, são um perigo imediato para a biodiversidade, e um perigo a longo prazo para a nossa saúde.”
– Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF.
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Máscaras e luvas descartáveis podem ser reciladas para produzir viseiras. No entanto, essa inovadora opção ainda não está ao alcance de todos. Por essa razão, atirá-las para o chão começou a fazer parte do “novo normal” pelo nosso país mas, o que é certo, é que são só mais uma ameaça adicional ao massivo uso de plásticos.
Soluções para atenuar o lixo
Aprender a ver todos os lados do prisma de qualquer situação é crucial. No caso das máscaras e luvas descartáveis, sabemos que nos protegem, sim, mas também é nosso dever saber que estão ao mesmo tempo a ameaçar o ambiente em que vivemos. Para não falar que ameaçam também outros seres com quem partilhamos o nosso planeta. É o caso das tartarugas que ingerem luvas por parecerem medusas (o seu verdadeiro alimento) e peixes que ficam entrelaçados nos fios das máscaras até não se conseguirem mover mais.
Acima de tudo, não odiamos o plástico. Este material é importante e a pandemia que estamos a enfrentar só veio confirmar isso. De outra forma não conseguiríamos prevenir a propagação do vírus tão eficazmente.
No entanto, há que reforçar soluções que podemos usar para atenuar o lixo que estamos a criar em prol de estarmos seguros. Uma delas é usar máscaras reutilizáveis, que não só vão reduzir a nossa pegada como podem representar 10 vezes menos emissões de CO2 na atmosfera. Mesmo sabendo que uma máscara reutilizável tem talvez o mesmo preço de uma caixa com 50 máscaras descartáveis que não tomam o tempo de ninguém para serem lavadas. Mas como tudo na vida e na história da humanidade, é uma questão de bom senso.
Plástico em tempos de pandemia: cada ação conta
O mundo como o conhecemos parou com a pandemia que nos veio abalar por todos os cantos – mas os nossos oceanos, florestas e suas faunas e floras continuam lá. E nós continuamos a pô-los em perigo. Não esqueçamos que, a longo termo, nos pomos em perigo também.
Sabemos que nem todos se vão sentir importados com este (grande) detalhe no meio de uma crise mundial, mas não precisamos de 10 milhões de portugueses a fazer tudo impecavelmente. Precisamos, sim, de 10 milhões de portugueses a fazer o melhor que podem. Porque cada ação conta.